segunda-feira, 20 de julho de 2015

ÓCIO NEGÓCIO



“na interminável busca por vestígios de pó”
Margarida Campilho, Roma amor

interminável Marta, Marta,
arrastando diante de ti toda a terra
é o vestígio que buscas
debaixo do móvel
debaixo do tapete
debaixo de tudo
debaixo de ti, Marta

até à mais infenitesimal partícula
que buscas que inventas, de cada uma fazendo
um negócio um salário pois trabalhará o Homem
até à mais infinitesimal gota de suor do seu rosto

descobres e inventas, em cada coisa que trabalhas
a decomposição do átomo, e cada um decompões Marta,
e assim trabalhas até o teu próprio nome
M-a-r-t-a, M-a-r-t-a

e nisto dispões taça a taça a honra
que me ofereces no vinho, no cansaço
das ondas que batem continuamente
do mar da Galileia, tantos são os teus cuidados
para com o teu convidado,
sentado à cabeceira do jantar

isto basta: buscar aos pés do Mestre
as palavras que reinventam o mundo
sentada, Maria é a alma do ócio

Rui Miguel Duarte
9/07/15

quinta-feira, 9 de julho de 2015

MEDITAÇÃO DE ADÃO DEPOIS DA QUEDA

“Und wo wir Zukunft sehn, dort sieht es Alles
und sich is Allem und geheilt für immer”
“E onde nós vemos futuro vê ele Tudo
e a si no Todo e salvo para sempre”
Rainer Maria Rilke, in Elegias de Duíno 8 (original e tradução de Maria Teresa Dias Furtado, Assírio & Alvim)

Não queria sair do Paraíso. Por isso
quis ver Tudo da copa da árvore.
quis ser mais alto e sobretudo permanecer
caso me faltasse a mão para abarcar toda
a visão, todo o espaço do Jardim feito concha
pelos rios que correm sem nascente nem foz.

Ausente da brisa do crepúsculo,
que é o Teu rosto dado de frente
escolhi um vento com aroma
de um fruto dando de lado.

Há uma dor em mim que é a da aproximação,
quanto mais me chego a Ti mais me dói.
Ser ausente do que vi em Ti,
que vês Tudo, que és salvo em Ti
e eu em Ti nos Teus olhos
de sangue de animal manso.

Escolhi outro crepúsculo
um sol caído em outros olhos,
olhos de aproximação da cobiça
da vida ignorante de quão espesso
é o seu vazio, de que olhar
os rios do Paraíso, que são
a Tua presença,
é ver-Te ausentando-Te
e eu neles para longe
fluindo sem nascente nem foz.

Não queria sair do Paraíso mas possuí-lo,
não me chegava esta mulher que
me deste, só o ver-me Tudo
mais asa do que anjo
mais sabor do que fruto.

Mas foi ainda nas águas dos rios,
que são o que me resta do passado,
que vejo o futuro.

Rui Miguel Duarte
18/06/15

Originalmente publicado em Salmo Presente

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Lançamento: Antologia Poética ÁGUAS VIVAS - Volume 4


      Dois anos se passaram desde o último volume de Águas Vivas, já seis anos desde o volume inaugural. Antologia poética bianual que almeja reunir e proclamar textos de significativos poetas evangélicos da atualidade, Águas Vivas nasceu e manteve-se sempre sob o signo da diversidade, reunindo poetas jovens, iniciantes de voz promissora a outros já experimentados e consagrados; autores oriundos dos mais diversos rincões do Brasil, e ainda de Portugal, e de diferentes filiações denominacionais.
      Este quarto volume vem confirmar a vocação pela pluralidade de Águas Vivas: Temos aqui jovens poetas de riquíssima expressão como Patrícia Costa, Marvin Cross, Maria Isabel Gonçalves e Luciano dos Anjos, ao lado de vozes experientes expressas pela força lírica e devocional de Rosa Leme e Romilda Gomes, o doce sotaque cordelístico de Roberto Celestino e a poesia francamente social de J.F.Aguiar.
      Paul Celan costumava dizer que “a poesia é uma espécie de regresso a casa.” Outro grande poeta, o espanhol Pedro Salinas, referia a poesia como “uma aventura [rumo] ao absoluto.” Pois esse singelo e aprazível exercício rumo ao Absoluto, onde, por maneiras multifacetadas, cada autor (re)constrói sua trilha e funda(menta) sua singularidade, é o que você encontrará aqui, amigo leitor. E pensar que a poesia, há ainda quem o diga, ‘não tem função’. Mas, sintetizando as opiniões dos referidos poetas, acreditamos que, ao contrário, a ela cabe a função mais nobre: lembrar-nos do Absoluto, sendo a um tempo a ferramenta e o memorial; aproximar-nos de Deus, grande porto de conturbada saída e de graciosa chegada da aventura humana; enfim mapear, com sua cartografia do inefável, nosso retorno ao Lar uma vez perdido.
      É sempre com renovada alegria e senso de dever cumprido que trazemos até você, amigo leitor, um pouco da ótima poesia cristã produzida atualmente por nossos irmãos, que têm no verso a expressão de suas almas, a extensão de sua fé.

Sammis Reachers

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