sexta-feira, 24 de abril de 2015

ELA






“E a costela que Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher”
Gn 2,23


Ela  tem a força das minhas costelas
E a forma do meu corpo por dentro
Ela não conheceu o barro
De onde eu vim
Ela saiu da minha concha
O seu perfume sobe e desce ainda
No meu sangue
Até que a morte cale o coração
O coração reconhece-a,  é ela
O verão no meu corpo envelhecido
Que acordou do sono, ela é agora osso
Dos meus ossos, carne da minha carne
Ela é a fonte do meu riso.

23-04-2015

©João Tomaz Parreira

domingo, 19 de abril de 2015

FLUXO DE SANGUE

“Porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã."
Evangelho segundo Mateus 9:21

Dizia comigo: há um rumo de sangue
que me conduz a ti o sangue que
ao correr repetidamente abriu sulcos
nas minhas lágrimas e erodiu a minha alma

dizia comigo: há um princípio de sangue
no meu e teu fim, foi ele o sangue que pintou
a veste branca, não da púrpura
dos senadores romanos
mas de um escarlate
que vem da medula
da dor animal

dizia comigo: há um trâmite de sangue
de troca por troca, de simples oferta e procura
de mim para ti
ai se soubesse não teria trocado tanto dinheiro
para ficar com o meu sangue, que afinal
insistia em me deixar as feridas insaradas

dizia comigo: há um fluxo de sangue
do teu e meu sangue, um rasto
de frutos silvestres espremidos
na orla do teu manto

Rui Miguel Duarte
18/04/15

quinta-feira, 2 de abril de 2015

DOIS POEMAS DO CICLO DA PAIXÃO




João Tomaz Parreira : 


PILATOS DIRIGE-SE AOS JUDEUS - IV


Eis o homem
que chegou aqui pelo valor mais baixo
que às vezes tem o beijo, o da traição
Este que chegou a golpes de chicote pelo corpo
e pelas faces em silêncio que oferecia
às bofetadas. Este que chegou aqui 
pelo crime de ser Deus
com uma cruz difícil sobre as costas.

02-04-2015
©



SALMO XXII NA CRUZ -III

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Salmo 22, 1


Coroado de sangue sem nada neste mundo
nenhum lugar agora é meu, reino
ou casa chamada de oração, nenhuma Nazaré
que amei e não me amou, agora
nem este monte do Calvário me pertence
a Cruz é a minha pátria, deixo cair sobre mim
toda a Humanidade.

01-04-2015
© 






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