domingo, 31 de janeiro de 2010

Eu vejo

 Um Deus alçado a uma cruz,
Um mistério fabuloso
Que veio morrer por nós

Um sacrifício que é
Sobre todo sacrifício,
Um nome que é sobre todo nome

Eu vejo uma salvação
Gratuita e simples,
Como só o Amor ofereceria

in Uma Abertura na Noite

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

BATALHA NAVAL


“Mas, quando viu que o vento era muito forte teve medo, começou a afundar-se e gritou”
Evangelho de Mateus 14,30 (versão A Bíblia para todos p. 1974)

Nessa madrugada
as águas tinham arestas
como gumes frios de vidro
cortando os pés

o vento era uma matilha de molossos
cravando as mandíbulas sobre os teus membros
e perfurando-te o ouvido
até à espinha
com um silvo de cobra

Em baixo abre-se um alçapão
sob o teu pé, que se perde
e se combina com a matéria do abismo

Nada mais podes fazer
só a agitação da mão e o grito do náufrago
para tudo o mais o teu corpo
é já um com a água e o lodo

– Porque duvidas?
as arestas e as matilhas
o lugar da luta e do medo
estão na tua alma

20/01/10

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ORAÇÃO



Em meu quarto com a porta fechada

Ele já sabia o que me afligia
Não verbalizei nenhuma palavra
Ele já sabia do que eu necessitava:


Respostas para minhas preocupações
Tanto horror, tanta dor...
Nos jardins não há mais flores, porque não há abelhas
Não há peixes, porque, não há água
Não há homens, porque não há meninos


Eu em meu quarto: "Até quando Senhor?"
"O céu e a terra passarão, minhas palavras não"
"Um será tomado, outro será deixado"
Não pelo rosto, não pelo posto,
Não pela raça, não pelo gosto


Humanismo, que não humaniza
Crenças, lendas, religiões
Mortos enterrando mortos
Os que vivem sem atenção


No céu todos não mais verão
As balas traçantes do tráfico
Nem os cartuchos deflagrados sendo vendidos,
Para alimentar as pobres crianças


Ele está vindo e virá
Na nuvens... O Senhor de todos
O juiz de muitos
No meu quarto ouço seu dizer:
Em mim há um inicio
Em mim há um fim


Quem nascer de novo, me verá reinar
Onde não haverá mais dores e prantos
Em um novo céu, uma nova terra.


J.F. Aguiarhttp://virtudemaior.blogspot.com

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Idílio depois do Dilúvio

É aqui o tempo de soltar as pombas
sobre o barro lento.

Às águas nebulosas,
soltas das fauces da noite,
agora sim, as pombas
para acariciar o mundo.

É tempo de alongar os olhos
para o voo das pombas,
para o arco
que triunfa sobre as cores.

A beleza do voo já reflecte,
no frágil espelho das águas,
as alegrias do dia
e a flor já veste as suas pétalas
na primavera entre as ruínas.

2005

J.T.Parreira

Jornada de Jesus

Compartilhar cada momento,
vivenciar cada instante.
Mulheres e crianças.
Pescadores e prostitutas.

Na jornada da vida
Jesus não negou
seu olhar,
seu ouvido,
suas mãos,
suas palavras.

Poema integrante do livro Caixa de Versos de Giovanni Campagnuci Alecrim de Araújo, edição do autor, São Paulo,SP: 2009

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

DUELO


"La mort sait bien
qu'elle va gagner le duel
en attendant

la vie
a des parades habiles
et l'amour
guide son fleuret"

Nic Klecker (poeta luxemburguês, 1928-2009 )


A morte e a vida têm um encontro marcado
um duelo à espada
de vida ou morte

a vida, com a fragilidade das pombas,
tem de ser conduzida

a sua testemunha é o amor
é este quem lhe adestra a mão
e quem a mantém denodadamente
no combate
mesmo que a vacilação
lhe desça pesada aos pés

a morte não traz padrinho
porque precisaria de ajuda?
o seu braço tem uma estocada irresistível

assomando ao campo aberto
o poeta assiste a tudo
a uma escassa distância
e diz a dor dos golpes
da morte
o dizê-lo é uma hábil parada
com que os vai sustendo

de um pouco mais ao longe
ouve-se a voz
espessa e férrea de um Profeta
declarar mudado o desfecho
para o duelo:
“O Amor
não falha
e o ferrão da morte
está quebrado”

Rui Miguel Duarte
26/12/09
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